Hoje, muito cedo, enquanto ainda tentava abrir os olhos, lembrei de um diálogo entre Caro e Long, quando o primeiro, em 1967, ainda era uma figura de destaque nas sessões de crítica prática da St. Martin School. Em certa ocasião, reza a lenda, Caro deparou-se com com um arranjo de gravetos no salão de exposições do departamento de escultura. Seguiu-se então uma conversa*.
Caro: "O que é isso?".
Long: "É uma peça de uma escultura de duas peças".
Caro: "Então me mostre a outra peça".
Long: "Está no alto de Ben Nevis".
Caro: "Então como posso avaliá-la se não posso ver tudo?"
(WOOD:1993, p. 2004)
Sempre achei esse diálogo engraçado.
Como um crítico de arte pode querer ver tudo?
Ou melhor, quando ele tem certeza de estar vendo tudo?
No final dos anos 60 e início dos 70, parece que esse tipo de conversa era o mais representativo do que estava acontecendo nas escolas de arte da Grã-Bretanha e, Richard Long estava feliz em promover seu trabalho como escultura.
Sempre que vejo as fotos de suas obras penso no prazer( como uma espécie de desabafo)que ele deve ter experimentado ao executá-las. Será assim?
Tenho vontade de carregar pedras como se isso pudesse ser divertido.
Percebo no trabalho uma força do desenho...feitos com as botas, com o corpo.
Pense nas caminhadas no deserto do Sahara, Peru, Bolívia...
Desenho ou escultura? Ambos. E algo que ainda possa nos escapar.
Entendo que o artista, assim como o crítico, não percebe tudo que está na obra.
Serão sempre recortes de um olhar...
É certo que alguma coisa estava acontecendo e alguns trabalhos não cabiam mais nas categorias tradicionais da arte, aquelas conhecidas até final dos anos 60...
Krauss falará do campo expandido da arte: algo que está na paisagem, mas não é paisagem...
está na arquitetura mas não é arquitetura...
Assunto pra um outro dia, quando talvez eu também comente a pintura do Daniel Buren.
Ah! Será que o Richard Long ainda acha que faz esculturas?
*(C. Harrison, "Sculpture's Recent Past". In: WOOD, Paul et alii. Modernismo em disputa: A Arte desde os anos quarenta. São Paulo: Cosac & Naif, 1993.
sábado, 29 de dezembro de 2007
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